quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

III Congresso do PT e a Formacao Política


Um dos desafios do III Congresso do PT, será a capacidade de fazer uma avaliacao histórica dos diferentes períodos e uma síntese para o futuro.


Sem maiores detalhes e com o risco de uma grande simplificacao, é possivel dividir a história do petismo em dois grandes momentos: o período de construcao e consolidacao, que se deu na primeira década (Partido dirigente e de massas) e o período de avanco institucional que se completou com a vitória para Presidente da República em 2002 (modelo institucionalizado de Partido Estatal).


A formacao política teve um papel estratégico no primeiro período, com o funcionamento do Instituto Cajamar, enquanto espaco de formacao de quadros dirigentes, aproveitando o potencial intelectual de muitos líderes que se somaram a construcao do PT, bem como a producao didáticos para núcleos de base e instancias municipais, mesmo com recursos escassos.


Na segunda fase, quando a maioría desses quadros já passaram a ocupar cargos públicos eletivos ou nao, a enfasis, quase exclusiva, passou a ser os processos eleitorais. A formacao teve um papel periférico, mantendo as secretarias, orcamentos vinculados estatutariamente, porém sem controle e sem efetividade.


A criacao da Fundacao Perseu Abramo, significou um importante passo na producao de debate político (Revista Teoria e Debate, eventos e publicacoes), mas a formacao continua sendo tarefa da SNFP.


A SNFP sempre se dedicou a promover vários eventos formativos, além de manter um módulo de Formacao de Formadores, que tem a concepcao de instrumentalizar as liderancas com conceitos básicos, para que esse conhecimento seja multiplicado pelos formadores nas bases, que também é pouco efetivo.


Embora nao haja entraves políticos entre FPA e SNFP, na prática falta uma estratégia articulada entre os dois espacos, assim como um plano envolvendo os estados, para além do FF.


Mas o maior desafio da formacao nao é organizativo e sim de decisao política e uma proposta ousada e renovada com base em dois aspectos: qualificacao de quadros políticos para exercer funcoes institucionais e de direcao partidária (os principias quadros mudaram de funcao e há uma perda de qualidade no partido, sem menosprezar o esforco pessoal dos novos quadros) e a formacao de novas liderancas.


No primeiro eixo o método mais adecuado é socializacao das experiencias de forma transversal e sistemática junto aos próprios fóruns e instancias já estabelecidas, organizando a sistematizacao das experiencias individuais e coletivas.


No segundo há déficit histórico no partido. As novas geracoes surgem com outros valores, outros métodos e formas de aprender. O uso da informática, recursos visuais, temas contemporaneos atualizados e o PT nao produziu propostas para tal.


Uma das características dos militantes petistas, principalmente na primeira fase histórica, foi a capacidade de argumentacao e convencimento. Com a institucionalizacao, os militantes foram sendo substituidos por cabos eleitorais profissionalizados, com enorme perda de qualidade e principalmente de diferencial.


A pergunta primeira é: temos acordo sobre a necessidade de qualificar nossos quadros e ao mesmo tempo sistematizar os conhecimentos individual e coletivamente produzidos? Temos acordo sobre a necessidade de formar novas liderancas políticas, com capacidade de responder aos desafios teóricos e metodológicos das geracoes atuais e futuras?

(texto que será publicado na Tribuna de Debates do III COngresso do PT - Site Fundacao Perseu Abramo - Tema: Concepcao e Construcao Partidária)

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