sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Em tempos de democracia


Em tempos de democracia.
Num tempo em que a mídia destaca com espanto os acontecimentos que estão ocorrendo em Honduras, lembramos que a menos de 30 anos vivíamos aqui no Brasil, uma situação muito pior.
O que está ocorrendo em Honduras hoje é inadmissível, tanto no mérito (pois é um dos únicos países que não tem reeleição), quanto no método (ao invés de um plebiscito para debater o tema, um golpe de Estado).
Se fatos como esses são inadmissíveis nos dias atuais, temos que resgatar a memória de pessoas que lutaram contra fatos como esses, recentemente no Brasil e muitos países da América Latina, para que hoje possamos afirmar que existe uma democracia mais ou menos consolidada em nossa região.
No dia 22 de agosto deste ano comemoraram-se 30 anos de anistia aos presos políticos no Brasil. Pessoas que lutaram contra a ditadura, contra o golpe de Estado de 1964, sustentado pelo imperialismo americano por mais de 20 anos no Brasil e de forma mais cruel ainda em países como Argentina, Chile e outros.
Muitas dessas pessoas foram condenadas, perseguidas, torturadas e desaparecidas pelos militares brasileiros, mas a maioria deles está aí, na frente de organizações importantes, exercendo mandatos de prefeitos, de deputados, de ministros do governo Lula e continuando sua luta pela democracia do Brasil.
Mas essa luta não é apenas por democracia política, liberdade de expressão, livre opinião (que muitas vezes ainda é restringida pelo monopólio dos meios de comunicação), mas também pela democracia econômica, pela distribuição de renda, pela igualdade social (que a 30 anos atrás era condenada como bandeira comunista).
Outras pessoas tombaram por essa causa. Na nossa memória o sempre deputado catarinense Paulo Stuart Wright, a mais de 36 anos desaparecido, sem direito ao “rito fúnebre de velar e enterrar (ou cremar) seus mortos” como prevê o artigo 216 da Constituição Brasileira de 1988.
Essa memória não pode ser esquecida. Todas as vozes devem ser ouvidas para render homenagem e relembrar a história. Nesse sentido promovemos mais uma homenagem à Paulo Stuart Wright, desta vez trazendo o depoimento e o testemunho de um personagem que o conheceu, lutou com ele pelas Reformas de Base, acompanhou-o no exílio e também resistiu fortemente contra ditadura.
Alípio de Freitas foi preso e torturado por mais de 12 anos. Hoje vive em Alantejo, pequena cidade histórica no interior de Portugal, a 200 quilômetros de Lisboa e vem à Florianópolis especialmente para homenagear Paulo Wright e relembrar uma história que não pode ser esquecida, pois se golpes de Estado e atentados a democracias são noticiados hoje como inadmissíveis, o são porque muitos lutaram e continuam lutando por democracia e igualdade social.