sexta-feira, 12 de março de 2010

Palestra professor Ignacy Sachs na UFSC.




O polonês Ignacy Sachs trás na sua bagagem a história de uma época de grandes transformações e faz parte de um seleto grupo com capacidade intelectual e moral de analisar o nosso tempo e apontar rumos.
Em palestra no dia 11 de março de 2010, no auditório da reitoria da UFSC, começou falando das três crises atuais: econômica/financeira; energética e ambiental.
Estamos vivendo uma terceira revolução, a primeira foi a neolítica e a segunda a energética (industrial).
Quais são as estratégias alternativas ao atual modelo de desenvolvimento?
A primeira estratégia é energética, começando pela mudança dos padrões de consumo (sobriedade energética); eficiência energética (atualmente se consome muito e mal); e também a substituição das fontes que emitem grandes quantidades de carbono, por energias renováveis e não emissoras de carbono.
Todas as formas de energias alternativas são bem vindas: aeólica, solar, maré-motriz e todas as bioenergias.
Especificamente em relação ao etanol, Sachs avalia que o Brasil está numa condição muito favorável, porque é um produto competitivo, de baixo custo e com boa adaptação da frota automobilística flex. Porém, existe ainda o etanol de celulose, que não compete com a produção de alimentos, bem como algas marinhas e até “fotossíntese assistida” (cuja tecnologia ainda não se encontra desenvolvida suficientemente).
A segunda estratégia é socioeconômica, que passa pela expansão da rede social para a população que está fora do mercado, através da ampliação de hospitais, escolas, habitação popular, saneamento, etc.
Terceiro é a expansão da economia solidária ou social dentro da economia de mercado, através das cooperativas, associações e OSIPs, que não tem finalidade de apropriação individual dos lucros e sim uma destinação coletiva dos resultados.
Quarto é uma maior seletividade no mercado internacional, priorizando as relações sul-sul, tendo Brasil de um lado, Índia de outro e a África no meio.
Quinta estratégia é o melhor aproveitamento do potencial interno, o chamado “desenvolvimento desde dentro”, ou desenvolvimento endógeno.
Por fim, estamos na hora do “adjornamento” ou planejamento estratégico, de curto, médio e longo prazo. Nos últimos 30 anos a contra-reforma neoliberal acreditou no mito da auto-regulação do mercado, abandonou o planejamento e resultou na crise atual.
De 1972 até 1992 houve uma conjuntura favorável para avanço de alternativas de desenvolvimento sustentável, o contrário dos vinte anos posteriores, que foi de descenso. A Agenda 21 requer a presença do Estado desenvolvimentista e proativo, porém, entrou na pauta num momento desfavorável.
A partir da crise, todos os economistas viraram keynesianos, mas qual keynesianismo? Existe aqueles que defendem a presença do Estado para construção de habitação popular e aqueles que defendem a presença do Estado para produzir armas nucleares.
Então, é preciso planejar estrategicamente sob dois princípios: sustentabilidade ambiental e inclusão social. A inclusão social deve ser através do trabalho descente, respeitando as condições de saúde e remuneração dos trabalhadores.
Diferentemente da experiência soviética, é preciso planejar a partir de um processo dialógico quadripartite: Estado desenvolvimentista, trabalhadores, empresários e sociedade civil organizada. Definir foros para esse diálogo, como espaço de definição, avaliação e correção do planejamento. Um planejamento interativo, dialógico e diagnóstico participativo, apontando os problemas (onde doe o calo) e as potencialidades.
Ignacy Sachs acredita muito nas potencialidades locais. A dialética do global-local são muito mais complexas do que a soma das partes.
Qual a agenda estratégica para o futuro? Em 2012 teremos a II Cúpula da Terra no Rio de Janeiro. Boa oportunidade para propor um planejamento estratégico em diferentes escalas territoriais.
Em 2022 o Brasil completa dois séculos de independência e merece uma atenção especial, como referência de longo prazo (período mínimo de 15 anos).
Questionado sobre, se essa proposta é reformista, Sachs responde que enquanto não há condições objetivas para se fazer uma revolução, não se pode ficar de braços cruzados, mas há que se construir tais condições através de reformas do sistema atual.
Sobre o pré-sal, como sendo uma contradição à lógica da substituição da matriz energética, Sachs afirma que um governo, quando descobre uma grande riqueza, não pode escondê-la, ou abrir mão de usá-la, mas o importante é saber usá-la investindo para criar as condições para as em energias alternativas.
Finalmente, sobre o governo Lula, o intelectual Ignacy Sachs lamenta a reforma agrária inacabada e saúda o perfil desenvolvimentista, especialmente dos bancos públicos e encerra com um chamado aos estudantes, para que se tornem planejadores de um ecossociodesenvolvimento.