segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Palestra Immanuel Wallerstein na UFSC


Florianópolis, 31 de agosto de 2009.


Em 1982, Immanuel Wallerstein juntamente com Samir Amin, Giovani Arrighi e Andre Gunder Frank, escreveram um livro sobre a “dinâmica da crise capitalista global”, que se colocou como uma das principais contraposições ao discurso hegemônico da globalização.

Essa crise tem origem no final dos anos 60 e início dos 70, combinando três questões: baixa da curva de Kondratieff (economia); baixa da hegemonia política americana; e Revolução de 1968.

Antes dessa baixa houve um período de forte expansão da economia e de hegemonia política americana, no pós-guerra, que encontrava “oposição” (militar) apenas na URSS.

A Conferência de Yalta as duas potências fixaram acordo de colaboração em três pontos: divisão do mundo em 2/3 para EUA e 1/3 para URSS; nenhuma potência se intrometia nas ações da outra; a disputa ficaria no campo das denúncias (guerra-fria).

As curvas cíclicas são normais no capitalismo, mas para entender seu funcionamento é preciso observar como se dão pelos seguintes mecanismos: a garantia do lucro das empresas (através dos quase-monopólios dos produtos de ponta); e a manutenção da ordem por parte dos Estados (que oferecem ambiente para os quase-monopólios).

O problema é que em ambos os mecanismos se auto-liquidam. Com o passar do tempo, de um lado, ocorre uma redução da taxa de lucro e de outro lado, passa-se a utilizar o poder militar (que corresponde a uma perda do poder de verdade).

A Revolução de 1968 significou um declive dos movimentos tradicionais anti-sistêmicos (velha-esquerda), que no período de 1945-68 também maximizou seu poder, ao mesmo tempo em que ocorreu a hegemonia americana. Será isso um paradoxo? Nesse período os comunistas governaram 1/3 dos países, outro 1/3 foram governados por sociais democratas, além do processo de descolonização.

1968 significou: um movimento contra o poder hegemônico americano/soviético e o principal exemplo foi o Vietnã; a velha-esquerda fracassou (seu método de acumulo de forças por etapa, pois quando chega ao poder se acomoda nele), cujo maior exemplo foi a Revolução Cultural chinesa “se os comunistas estão no poder, os capitalistas estão no poder”; inclusão de setores esquecidos (raça, gênero, etc) que erram secundários ao tema principal da relação capital-trabalho, maior exemplo o movimento negro nos EUA.

Essa Revolução foi um grande êxito e um grande fracasso. Êxito porque destronou o liberalismo científico como única ideologia válida e houve renovações de esquerda e de direita. Fracasso porque com a perda de poder das esquerdas houve um contra-ataque da direita (neoliberal) nos anos 80, teorias do “fim da história”, etc.

O neoliberalismo também obteve êxitos e fracassos. Houve ganhos das classes inferiores, mas por outro lado,faltaram produtos capazes de se tornar quase-monopólios, então os lucros passaram a ocorrer no sistema financeiro (que é normal em fase de baixas cíclicas) através de rolagem de dívidas (que acaba se transformando em um bolha0. O que ocorreu recentemente foi a impossibilidade de continuação dessa bolha, então um profunda crise de confiabilidade no sistema financeiro.

Portanto, estamos numa depressão profunda (não recessão) e vamos perder os dois últimos pilares do capitalismo atual: o dólar americano já perdeu 1/3 da sua taxa de cambio em dois anos e vai perder mais, então teremos um sistema de múltiplas moedas e será mais flutuante; e o Estado terá menos ingressos fiscais e mais demanda social, irá reagir imprimindo mais moeda (última bolha) e reforçando o protecionismo (que ajuda a piorar a situação).

Se a China e Índia continuarem a crescer será bom para eles e ruim para o sistema, porque irão acumular mais valia e terá menos sobre para os demais países.

Uma coisa é certa “todo sistema em longo prazo se extingue” e estamos diante de três tendências:
a) a transferência de empresas pouco lucrativas para países pobres e com a migração campo-cidade ambos ganham ( a empresa com mão-de-obra mais barata e o retirante ganha mais que no campo), porém essa vantagem é temporário e a desrruralização está praticamente esgotada;
b) o baixo custo de insumos, pelo não pagamento da poluição e da reposição dos bens não renováveis está no limite e cresce a internalização dos custos ambientais e conseqüente redução dos lucros;
c) há um aumento de impostos para fazer frente às demandas de educação, saúde e previdência.

Neste ponto alto da curva de longa duração ocorrem os pontos de bifurcação do sistema, impossíveis de preverem saídas (incertezas), mas com a máxima probabilidade de ação individual. Há uma perda de hegemonia e de modelos, então as “ações importam”.

Atualmente existem apenas dois campos contrapostos: Davos e Porto Alegre e ambos não sabem como será o futuro. Davos quer reformar o capitalismo sem acabar com a exploração e as hierarquias e Porto Alegre quer um mundo democrático e igualitário.

Em Davos se propõem saídas no curto prazo (imediatas) afim de mudar tudo, para que no longo prazo nada mude. Porto Alegre se divide entre a proposta de criar uma Nova Internacional e a proposta de manter estruturas horizontais para reagrupar as diversidades.

O que fazer? Fazer análises intelectuais lúcidas. Ter opções morais claras e firmes e encontrara as decisões e as táticas políticas. Todos nós temos que ser intelectuais e militantes ao mesmo tempo.


Sem comentários: